
Faleceu dia 21 de abril, aos 74 anos, o técnico de futebol
Telê Santana. Foi técnico do
Fluminense e campeão carioca de 1969. Como técnico do
Atlético Mineiro foi campeão estadual em 1970 e 1988 e ainda Campeão Brasileiro em 1971. No Rio Grande do Sul, foi campeão gaúcho pelo
Grêmio em 1977. Por cinco anos treinou o
São Paulo, talvez um recorde para o futebol brasileiro, foi campeão brasileiro em 1991, bicampeão paulista em 1991 e 1992, bicampeão mundial interclubes em 1992 e 1993, bicampeão da recopa sul-americana em 1993 e 1994, campeão da supercopa em 1993 e da commebol em 1995. Mas foi na
Seleção Brasileira que acompanhei o trabalho de
Telê Santana.
Telê Santana assumiu a desacreditada
Seleção Brasileira em 1980. Surpreendeu o país com a inovação tática ao usar, o que se chamava na época, o "quadrado do meio-campo", abandonando o tradicional 4-3-3, mesmo contra a pressão popular. Quem tem mais de 30 anos lembrará do programa do
Jô Soares em que o personagem Zé da Galera sempre ordenava: "bota ponta Telê!" Na concepção tática, os idolatrados "pontas", que tradicionalmente ficavam esperando a bola chegar na lateral do campo e não ajudavam o resto do time, foram substituidos pelos avanços dos laterais. Outra inovação foi que na Seleção de 1982 não havia um "cabeça de área" , aquele meio-campo tosco que ficava na frente dos zagueiros sem nunca chegar perto do gol adversário. Teoricamente, quatro jogadores no meio-campo, em tese, até poderiam defender melhor do que um cabeça de área, mas
Telê Santana sempre pregou a idéia do futebol ofensivo. Era outra qualidade sua: firmeza e acreditar nos seus princípios. O meio-campo da
Seleção de 1982, ou a "Seleção do Telê", como ficou conhecida, não guardava posição. Todos tinham licença para atacar. E atacavam. Praticamente o único jogador fixo da equipe era o zagueiro Oscar, porque seu companheiro, Luizinho, um zagueiro técnico, gostava de sair para o jogo, somando-se ao meio-campo. Assim, foi uma completa inovação do futebol brasileiro: a equipe tinha quatro meio-campistas, não havia pontas, não havia cabeça de área e só havia um jogador fixo. Contudo, nas quartas de final da Copa de 1982, o destino foi cruel com a Seleção, já considerada a melhor da Copa. Num jogo incrível em que a Seleção levou dois gols por falhas individuais foi derrotada pela Itália por três a dois. Os erros foram decisivos, porque obrigaram a equipe jogar correndo atrás do resultado praticamente todo o tempo, enquanto que a especialidade da Itália era justamente o contra-ataque. Mesmo durante o pouco tempo em que o resultado lhe era favorável, não soube se defender, nem aproveitar os contra-ataques. Tragédia nacional.
Sócrates, capitão da equipe,
recorda o clima no vestiário após o jogo: "estávamos todos mortos, espalhados pelos bancos, uns chorando , outros tristes, pensando na imensa dor do pobre povo brasileiro naquela hora; a nossa dor, a minha dor, era a dor pelo nosso povo, é a dor que sinto agora que
Telê se foi. E lembro, imagem por imagem, dele naquele momento. Foi uma surpresa a reação dele. O rosto dele estava sereno, havia paz nos seus olhos. Ele foi de um em um, um olhar forte e profundo que nos dizia a única coisa que havia para ser dita, e que ele me fez acreditar: "Fizemos o melhor que pudemos".
Em 1982 minha dor pela derrota na Copa foi na frente de um álbum de figurinhas. Vinte e três anos depois, minha dor pela perda do
Mestre é na frente de um teclado..
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