
Lamentavelmente, nossa cultura ocidental impõe a idéia que o carro é uma expressão de poder, sedução e dinamismo do proprietário. No Rio Grande do Sul, a população é fascinada por carro, assim como nossos avós adoravam os cavalos. Em algumas praias gaúchas vê-se que as pessoas preferem ficar ao lado dos seus carros estacionados observando o movimento da rua, ao invés de ficar na beira do mar. Curiosamente, apesar da obsessão dos gaúchos por carro, uma vez eu li que os juros de financiamento de veículos no Rio Grande do Sul é maior do que no restante do país. Motivo: a inadimplência é alta e os devedores acionam a Dona Justa. Em outras palavras, o sujeito que chega ao cúmulo de comprar o carro a prestação, dar o calote, colocar a seguradora na justiça para seguir não pagando e permanecer com o carro.
Diante dessa mentalidade, é natural que nenhuma importância seja dada aos usuários de bicicleta, apesar de haver milhares de trabalhadores que se deslocam dos bairros para o trabalho, afinal pagar passagem de ônibus pelo menos duas vezes por dia pesa no orçamento de quem ganha um salário mínimo. Políticos, publicitários, urbanistas imaginam que o salário médio de trabalhador brasileiro permite ter um ou dois carros na garagem. Por isso é que pouco importam-se com as bicicletas. A cidade deve ser feita para os carros, caminhões, ônibus e ponto final.
Da minha parte, recebi com alegria a notícia da construção da nova ciclofaixa na cidade. Ela permitirá aos ciclistas que moram na zona norte chegar até o centro da cidade em poucos minutos. A grita, pelos motivos apontados, é natural, mas governar, muitas vezes, implica em superar o pensamento comum e tampouco o administrador público pode imaginar que passará quatro ou oito anos sem desagradar a determinado grupo.
Pelotas ficará melhor com as ciclovias, pois pedalar é um esporte saudável, econômico e ecologicamente correto. Que venham as ciclovias, afinal vivemos em democracia e a cidade deve ser planejada para realmente todos, para os ciclistas, inclusive.
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