sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

Memórias literárias



Pencil and Paper

Originally uploaded by photo_up.

Por essas estranhas peças que a memória nos prega, lembrei de uma parte de uma poesia que nos foi passada na 2ª série do primeiro grau.

Digitei uma parte do poema no Google e...estava lá!

Achei neste blog.

ps-Professora culta como é, a Emília achou que o poema não seria adequado para a segunda série do primeiro grau. De fato, revivendo a memória, na verdade o poema foi nos passado no segundo grau, só não lembro agora se foi no primeiro ou segundo ano. Obrigado professora! :-)

Ninguém

"A rua estava fria. Era sábado ao anoitecer mas eu estava chegando e não saindo. Passei no bar e comprei um maço de cigarros.Vinte cigarros. Eram os vinte amigos que iam passar a noite comigo.
A porta se fechou como uma despedida para a rua,mas a porta sempre se fechava assim. Ela se fechou com um som abafado e rouco. Mas era sempre assim que ela se fechava. Um som que parecia o adeus de um condenado. Mas a porta simplesmente se fechara e ela sempre se fechara assim. Todos os dias ela se fechava assim.
Acender o fogo,esquentar o arroz,fritar um ovo. A gordura estala e espirra ferindo minhas mãos. A comida estava boa. Estava realmente boa,embora tenha ficado quase a metade no prato. Havia uma casquinha de ovo e pensei em pedir-me desculpas por isso. Sorri com esse pensamento. Acho que sorri. Devo ter sorrido. Era só uma casquinha.
Busquei no silêncio da copa algum inseto mas eles já haviam todos adormecido para a manhã de domingo. Então eu falei em voz alta. Precisava ouvir alguma coisa e falei em voz alta. Foi só uma frase banal. Se houvesse alguém perto diria que eu estava ficando doido. Eu sorriria. Mas não havia ninguém. Eu podia dizer o que quisesse. Não havia ninguém para me ouvir. Eu podia rolar no chão,ficar nu,arrancar os cabelos, gemer, chorar,soluçar,perder a fala,não havia ninguém para me ver.Ninguém para me ouvir.Não havia ninguém. Eu podia até morrer.
De manhã o padeiro me perguntou se estava tudo bom. Eu sorri e disse que estava. Na rua o vizinho me perguntou se estava tudo certo. Eu disse que sim e sorri. Também meu patrão me perguntou e eu sorrindo disse que sim. Veio a tarde e meu primo me perguntou se estava tudo em paz e eu sorri dizendo que estava. Depois uma conhecida me perguntou se estava tudo azul e eu sorri e disse que sim,estava,tudo azul."
(Luiz Vilela)

3 comentários:

  1. Só não percebi uma coisa: 2ª série do primeiro grau não é cedo demais para esse poema? :)
    Abraços.

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  2. Eu acheii muitoo Legal o poema sobre memorias literarias !!

    beijos!!

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